Enquanto o sistema financeiro se expande para incluir novos clientes e serviços, países promovem a educação financeira. Mas a literatura carece de estimativas dos efeitos de longo prazo. Bruhn e outros (2016) estudaram o impacto de curto prazo de um programa de educação financeira em escolas do ensino médio, implementado em 2010 e 2011 utilizando um ensaio controlado aleatorizado (RCT – randomized control trial) com cerca de 25 mil alunos de 892 escolas em seis estados brasileiros. Nesta nova pesquisa, estudamos efeitos de longo prazo utilizando dados administrativos para seguir 16 mil desses estudantes por até nove anos, o que nos permite mensurar o efeito do programa no comportamento financeiro e em variáveis relacionadas à ocupação.
O Programa de Educação Financeira nas Escolas
O programa foi desenvolvido e implementado como parte da Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF). Ele se iniciou com alunos que estavam no segundo semestre do segundo ano do ensino médio e se estendeu até o final do terceiro ano, durante os anos letivos de 2010 e 2011. O conteúdo foi integrado nos programas de matemática, ciências, história e língua portuguesa. A intervenção utilizou livros-texto novos com exercícios interativos em sala de aula e em casa e incluiu atividades como construir um orçamento familiar. Os livros-texto cobriram nove assuntos: (i) vida familiar cotidiana; (ii) vida social; (iii) bens pessoais; (iv) trabalho; (v) empreendedorismo; (vi) grandes projetos; (vii) bens públicos; (viii) economia do país; e (ix) economia do mundo.
Resultados de curto prazo
A metade das 892 escolas públicas na amostra da avaliação de impacto foi aleatoriamente selecionada para integrar o grupo de tratamento e receber treinamento para os professores e os livros-texto. As escolas do grupo de controle não receberam o treinamento ou os livros, mas participaram, assim como o outro grupo, das avaliações que ocorreram no início, meio e final do programa. Esses levantamentos foram utilizados para a avaliação de impacto de curto prazo do programa. Os estudantes se formaram no final do programa, de forma que os alunos do grupo de controle não puderam ser expostos a esse conteúdo de educação financeira.
Os efeitos de curto prazo, apresentados em Bruhn e outros (2016), mostraram que o programa aumentou a educação financeira, a intenção de poupar, a poupança auto reportada para compras, assim como administração do dinheiro e utilização de orçamentos. Por outro lado, o programa levou a um uso significativamente maior de crédito caro (como o de cartões de crédito) e a uma probabilidade maior de atrasar o pagamento desses créditos, possivelmente porque o programa objetivou informar os estudantes sobre esses produtos, mas não desencorajou ativamente seu uso.
Dados administrativos
Utilizando as informações de nome e idade dos alunos, foram recuperados aproximadamente 16 mil CPFs de alunos da amostra original. Esses CPFs foram utilizados para consultar bases de dados administrativas existentes no Banco Central do Brasil (BC). Os dados incluem posse de conta em instituições financeiras (IFs), mas não saldos, utilização de diversos produtos de crédito, bem como informações sobre emprego formal e posse de empresas do tipo MEI (microempreendedor individual). Os dados acompanham os alunos desde o final do ensino médio, em 2011, até fevereiro de 2020, imediatamente antes da chegada da pandemia de COVID-19 ao Brasil.
Efeitos de longo prazo
A comparação dos grupos tratamento e controle nessa rica base de dados no contexto experimental conduz a quatro achados principais:
Fonte: Banco Central do Brasil
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